Muita importância têm as imagens no ensino e, muito particularmente, no ensino de línguas. Desde há muito tempo, e através das diferentes metodologias (direta, estruturo-global, comunicativa etc.), as imagens fixas ajudaram na compreensão escrita dos aprendentes. Acompanhando textos e diálogos, temos debuxos ou fotografias a facilitar uma compreensão global da situação comunicativa (imagens situacionais) ou o significado de enunciados particulares (imagens de “transcodagem”). Estas últimas ajudam-nos a completar o significado de frases como “Estou atrasado” acompanhando-as da imagem de uma pessoa triste, apurada ou surpreendida.

Paralelamente a este uso das imagens, desenvolveram-se as atividades de debuxo ou de desenho através das quais os aprendentes mostram a sua compreensão de uma leitura ou de uma cena ou também ilustram o significado das suas produções. Como é sabido, o recurso ao debuxo na aula de língua é especialmente usado no ensino infantil e primario, em larga medida nas etapas onde as competências da escrita ainda não foram bem adquiridas.
A generalização de internet e dos dispositivos móveis abre agora inúmeras possibilidades no uso das imagens para ensinar e aprender línguas e trabalhar a negociação de significados. Entre elas, temos o aproveitamento dos memes.
O que são os memes?
Os memes já existiam antes de internet. São elementos culturais que se transmitem de uma pessoa para outra por imitação. Em internet tomam forma de fotografias ou vídeos que se tornam virais e são partilhados, imitados ou reinterpretados em foros e redes sociais. Um tipo de meme especialmente popular são as imagens associadas a uma mensagem.Trata-se de composições não muito elaboradas que possuem, porém, uma grande força expressiva.

Este tipo de memes aprensentam uma grande potencialidade na aula de línguas devido ao seu importante componente comunicativo. Aliás, são fáceis de fazer: existem muitas webs onde os aprendentes podem elaborar os seus memes, para além dos aplicativos móveis de edição fotográfica. Porém, os memes, para serem efetivos, requerem de um espaço em linha de partilha: um foro de aula, um AVA (Moodle) ou um grupo de trabalho numa rede social. Isto é, um espaço colaborativo para a negociação de significados. Como se sabe, a utilização na Galiza de ambientes virtuais de aprendizagem ou de dispositivos móveis ainda é limitada nas etapas educativas obrigatórias.
Usos para trabalhar a produção escrita
A elaboração de um meme não exige uma produção escrita extensa. É suficiente uma frase e uma imagem que ilustre ou complemente o seu significado. Portanto, podemos usar os memes na aula já nos níveis iniciantes (A1, A2). Uma atividade singela é pedirmos aos aprendentes que elaborem um meme expresando um gosto, um hobby, um bom ou um mal momento do dia etc.. Nas minhas aulas de francês A1/A2 na FCCED realizamos esta atividade no seio dos grupos de trabalho das matérias em Facebook. O alunado elabora os memes e partilha-os num evento criado especificamente dentro do grupo para esta atividade garantindo uma melhor gestão dos conteúdos (fotos, comentários etc.). Nos exemplos que se podem ver a seguir, os aprendentes deviam expressar um gosto ou “desgosto” através da web Someecards.
Para os níveis mais avançados podemos pedir aos aprendentes usarem estruturas gramaticais mais complexas ou unidades fraseológicas. Também podemos enriquecer o aspeto cultural desta atividade usando quadros. A seguir, podem-se ver exemplos tirados do blog El Arte Pop, que descobri graças ao amigo Sergio Figueira, e onde se combinam quadros com títulos ou letras de canções pop em castelhano.
Memes e gifs animados
Também podemos trabalhar a compreensão escrita trabalhando com memes baseados em gifs animados, isto é, um texto breve acompanhado de uma imagem dinámica ou móvel. Ainda que podem ser elaborados polos aprendentes com programinhas como GifCam, é possível encontrarmos em internet inúmeros repositórios deste tipo imagens animadas. Por exemplo, em Giphy podemos procurar gifs por etiquetas. Uma boa atividade consitiria em pedir aos aprendentes partilharem um gif representando uma frase, uma expressão ou uma palavra sugerida polo professor. Temos um exemplo de uso de gifs para negociar ou construir significados naqueles blogs onde se descrevem experiencias quotidianas em certas cidades, como When you live in Compostela inspirado de When you live in Barcelona.
Mas os gifs, sendo imagens em movimento, têm também muito potencial para contar histórias se os combinarmos bem. Estamos, de novo, frente a importância e a eficácia da narrativização (ou storytelling) de conteúdos de aprendizagem nas aulas. Webs como Zeega (infelizmente inoperativa) ou aplicativos como Storehouse, Steller ou especialmente o Atavist tornam isto possível acompanhando, ademais, os gifs e o texto com música ou som. Podem ser os aprendentes quem criem e partilhem pequenas histórias ou pode ser o docente quem utilize esta possibilidade para apresentar conteúdos. Deixo aqui um exemplo que elaborei para as aulas de francês A1 onde apresento léxico e expressões das rotinas quotidianas (cliquem aqui ou na imagem para assistir).
Outros zeegas para as minhas aulas: 1 e 2. Outros mais pessoais: 1 e 2.
As possibilidades são muitas, mas, como sempre, para serem realmente efetivas dependemos das competências digitais dos aprendentes e da política do nosso estabelecimento de ensino quanto ao uso dos dispositivos móveis nas aulas. O primeiro fator poder ser paliado com tutoriais ou aulas práticas, mas o segundo já depende de posições e atitudes que escapam ao controlo do docente.