Há já algum tempo que nos projetos de lexicografia em que participo, na rede RELEX e especialmente em PORTLEX, andamos a falar da importância de conhecermos melhor os utilizadores dos dicionários. De facto, no quadro do projeto PORTLEX, desenvolvemos um modelo de questionário (UsoDEU) para obtermos datos sobre as tendências no uso dos dicionários entre os estudantes universitários e que foi testado aqui, no campus de Pontevedra. Na revisão da bibliografia para a realização desse trabalho surgiu entre nós o interesse polas técnicas de análise de atenção ou oculometria (eye tacking em inglês). Descobrimos que esta tamém é usada para detectar padrões visuais nos percursos de procura durante a utilização de um dicionário. A tal respeito, e apesar de serem recentes, são já conhecidos trabalhos como os de Tono (2011) e Simonsen (2011). Ademais, em PortLex estamos a seguir de perto os trabalhos realizados no IDS dentro do projeto BZVelexico e que incluem também estudos de oculometria de utilizadores de dicionários eletrónicos (Müller-Spitzer, Koplenig e Töpel, 2011). Sem dúvida, os debates que se produzem nas reuniões da rede europeia ENeL, onde participamos ativamente, também ajudaram para acrescentar o nosso interesse nestas técnicas oculométricas.
Qual foi a minha surpresa quando descobri que na minha própria faculdade havia investigadores em ciências do desporto interessados também em aprender técnicas de análise de atenção. Há uns meses, o professor Roberto Barcala, do grupo de investigação REMOSS, propôs a adquisição de uma ferramenta de análise oculométrica para o Laboratório de Controlo Motor da nossa faculdade. Sendo muito cara, o professor Barcala lançava um pedido de colaboração a outros investigadores interessados no seu uso para assim compartilharmos as despesas. Àquela chamada não só respondi eu sem duvidar, mas também outros professores, sendo eu o único linguísta. No final, e infelizmente, não pudemos conseguir financiamento, mas a iniciativa do professor Barcala serviu para espertar na faculdade o interesse por essa metodologia de investigação.
Hoje recebemos outra mensagem entusiasta do Roberto. Estivera a ver outras possibilidades e encontrara algumas alternativas bem mais económicas e mesmo um sofware gratuito que aproveitava a câmara web do computador: o Camera Mouse. Ainda que esta ferramenta não tem a precisão dos programas de análise da atenção (de facto, acho que não foi concibida para realizar este tipo de pesquisas), serviu para testar as potencialidades da metodologia oculométrica. No gabinete do professor Barcala estávamos quatro professores a avaliar o Camera Mouse com uma fotografia e ocorreu-me então que a podíamos testar com uma entrada de um dicionário eletrónico. Propus abrir a entrada hacer (fazer) do DRAE já que o espanhol é a língua habitual dos meus companheiros. O ecrã mostrava até a nona aceção, tal como se pode ver na fotografia.
Como é bom de ver, a apresentação da informação nesta versão em linha do DRAE fica muito influenciada polo dicionário impresso, o qual é especialmente óbvio na utilização de abreviaturas. Cada aceção é assinalada por um número e vem ilustrada com um exemplo em itálico. Tanto o indexador como o exemplo, assim como a informação gramatical, apresentam cores diferentes à do texto da glossa ou definição. Pedi a dous professores presentes, o próprio Roberto e a professora Marián Fernández, ambos não linguistas, que encontrassem a aceção que mais tinha a ver com a atividade desportiva. Durante aproximadamente 10 segundos, os seus movimentos oculares fôrom seguidos com o Camera Mouse. Infelizmente, as imagens obtidas não fôrom salvas nesse momento, não achamos importante, mas elas mostravam claramente o percurso da mirada dos professores sobre a informação da entrada apresentada. Apesar da sua imprecisão manifesta, as imagens revelavam dous padões de procura diferentes e que fôrom confirmados polos professores: ambos identificaram a aceção solicitada (a 8), mas o professor Barcala reparou mais nos exemplos enquanto a professora Fernández Villarino se centrou mais nas definições.
Evidentemente, este pequeno experimento fica muito longe de ser rigoroso e, portanto, concluinte. Porém, o seu modesto resultado mostra a pontencialidade desta metodologia para lançar luz sobre os nossos hábitos ao usarmos os dicionários eletrónicos. Neste tipo de dicionários, já de utilização maioritária, a microestrutura, quer dizer, a apresentação da informação em cada entrada, não tem os limites das obras impressas. Na atualidade, muitos projetos, como o do IDS ou o próprio projeto PORTLEX, procuram novas maneiras de apresentar a informação lexicográfica que atendam melhor aos hábitos dos utilizadores. É por isso que análise da atenção destes nos ecrãs pode ajudar muito para encontrar as melhores maneiras de apresentar a informação lexicográfica nos ambientes digitais.
Referências
Müller-Spitzer, Carolin / Koplenig, Alexander / Töpel, Antje (2011). “What Makes a Good Online Dictionary? – Empirical Insights from an Interdisciplinary Research Project“. Em Kosem, Iztok/Kosem, Karmen (eds.): Electronic lexicography in the 21st century: New applications for new users. Proceedings of eLex 2011, Bled, 10 – 12 November 2011. Recuperado de http://www.trojina.si/elex2011/Vsebine/proceedings/eLex2011-27.pdf.
Simonsen, Henrik Køhler (2011). “User Consultation Behaviour in Internet Dictionaries: An Eye-Tracking Study“, Hermes – Journal of Language and Communication Studies, 46, 75-101.
Tono, Yukio (2011). “Application Of Eye-Tracking In Efl Learners’ Dictionary Look-Up Process Research“, International Journal od Lexicography, 24 (1), 124-153.